Leituras: A Minha Luta:2, Um Homem Apaixonado

Há tanto de maçador como de enternecedor e magnetizante na escrita de Karl Ove Knausgaard. As descrições exaustivas ajudam-nos a entrar no ambiente quotidiano do autor-personagem e isso é simultaneamente um atrativo e um engulho na leitura, que facilmente se ultrapassa empurrados por uma curiosidade muito voyeurista que nos desvenda a complexidade do autor por um lado, e a sua banalidade por outro. Há um bocadinho de todos nós, das nossas angústias, dos nossos afazeres mais rotineiros, das nossas relações, dos nossos questionamentos, nas histórias que o livro partilha. A paixão, os desafios das relações familiares, o peso que a vida de todos os dias tem sobre a mão que escreve e lança um nevoeiro denso sobre o processo criativo, que se obriga a revelar com horas marcadas, entre o deixar os filhos na escola, a preparação do jantar, a vizinha embirrante, as discussões com o cônjuge, os problemas com a sogra e os problemas que o cônjuge tem com a sua própria sogra, mãe do autor. Quem nunca passou por isto e/ou não se tenha encontrado, em algum momento, neste livro que ouse levantar o braço. Ninguém certo? Exacto...
Após a leitura resta um cansaço de Karl Ove, e, por extensão, de mim própria. Alguém carpiu ali as minhas mágoas por mim e preciso agora de algo que me obrigue a sair e não a autocentrar-me.
Tal como me aconteceu após ler "A Minha Luta: 1", também agora preciso de mudar de ares, passar por outros autores, ressacar de Karl Ove, para ganhar um novo ímpeto que me leve até à última página de "A Minha Luta: 3". Sem pressas. Sem prazos.

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